Após estupro, Justiça impede aborto de menina grávida

Foto: Solon Soares/Assembleia Legislativa de Santa Catarina

Uma menina de 11 anos, grávida após violência sexual, foi impedida de realizar o aborto, após a promotora Mirela Dutra Alberton, do Ministério Público catarinense ajuizar uma ação cautelar pedindo o acolhimento institucional da menina. O pedido foi acatado pela juíza Joana Ribeiro Zimmer, que realizou uma audiência com a garota, segundo reportagem do The Intercept Brasil. 

A menina, então, foi levada a um abrigo, longe da família. Em 9 de maio, durante audiência judicial em que ela, sua família e sua defensora foram ouvidas pela juíza e pela promotora, todos se comprometeram a tomar medidas para evitar novos abusos.

O Código Penal permite o aborto em caso de violência sexual, sem impor qualquer limitação de semanas da gravidez e sem exigir autorização judicial. A menina está sendo mantida pela justiça de Santa Catarina em um abrigo há mais de um mês para evitar que faça um aborto legal. Atualmente sua gestação caminha para a 29ª semana de gravidez.

Segundo o processo, a gravidez foi descoberta alguns dias antes do aniversário de 11 anos da menina por meio de um teste rápido de farmácia, realizado depois que a mãe estranhou os enjoos da criança e o crescimento de sua barriga. Em 3 de maio, o resultado do teste feito no dia anterior foi confirmado por uma ultrassonografia em uma consulta particular. No dia seguinte, a família buscou o Conselho Tutelar de Tijucas e, depois, o hospital de referência no serviço de aborto legal, o HU da UFSC. 

Em 4 de maio, quando foram ao Hospital Universitário Professor Polydoro Ernani de São Thiago, o HU, ligado à UFSC, a mãe e a menina afirmaram à psicóloga do hospital que não queriam manter a gravidez.

Dois dias depois, a promotora Mirela Dutra Alberton, do Ministério Público catarinense, ajuizou uma ação cautelar pedindo o acolhimento institucional da menina, onde deveria “permanecer até verificar-se que não se encontra mais em situação de risco de violência sexual e possa retornar para a família natural”.

Confira um trecho transcrito da audiência: 

Juíza – Quanto tempo você aceitaria ficar com o bebê na sua barriga pra gente acabar de formar ele? Dar os medicamentos para o pulmãozinho dele ficar maduro, para a gente poder fazer essa retirada antecipada do bebê, para outra pessoa cuidar se você não quiser? 

Menina – Eu não sei. 

Juíza – Mas se tivesse tudo bem, se a sua saúde suportasse tu suportaria ficar mais um pouquinho? 

Menina – Sim.

Apesar de o primeiro laudo ter apontado que não havia risco de morte para a menina, outros médicos do mesmo hospital avaliaram o contrário em depoimentos na audiência e em outros laudos anexados ao processo. Em um deles, de 10 de maio, a médica Maristela Muller Sens, também do HU, recomenda a interrupção da gestação da menina alegando riscos como anemia grave, pré-eclâmpsia, maior chance de hemorragias e até histerectomia – a retirada do útero, consequência irreversível.

 




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