Tragédia em Praia Grande: falhas no extintor, desespero no ar e lacunas na lei marcam queda de balão que matou oito

Tragédia em Praia Grande: falhas no extintor, desespero no ar e lacunas na lei marcam queda de balão que matou oito
Foto: Reprodução

O piloto Elves de Bem Crescêncio revelou os detalhes dramáticos sobre o acidente que chocou Santa Catarina. Ele pilotava o balão que caiu em Praia Grande, no Sul do Estado, provocando a morte de oito pessoas.

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Em entrevista exclusiva ao programa Domingo Espetacular, da TV Record, Elves, que também é sócio da empresa responsável pelo passeio, afirmou que a decolagem foi “perfeita, sem erro nenhum”. Mas a tranquilidade durou pouco: apenas quatro minutos após o início do voo, um incêndio tomou conta do balão.

“Eu senti o cheiro de queimado e, quando olhei para baixo, havia um foco de incêndio na casa [do maçarico auxiliar]”, explicou. Elves explica que, o maçarico auxiliar é um equipamento que deve ser utilizado se a chama principal falhar.

Ele joga pra fora o maçarico e tenta parar a chama com o extintor, que falha. Não havia um extintor reserva no cesto. “Não imaginava que o extintor não ia funcionar e um extintor é para funcionar, né?”, afirmou Elves.

A bordo estavam dez pessoas, entre elas Luana da Rocha, estudante de Direito e uma das duas sobreviventes. Ela perdeu os pais, Everaldo da Rocha e Janaina Moreira, no acidente.

“Até o momento que eu pulei eu não sabia que era incêndio”, conta Luana. Segundo o relato dela, Elves orientou os passageiros a permanecerem tranquilos, afirmando que realizaria o pouso e indicaria o momento certo para que pulassem. Foi nesse instante que ela saltou.

“Eu vi as pessoas que caíram e eu comecei a gritar pela minha mãe e pelo meu pai, mas nenhum deles respondeu. Foi quando eu olhei pra cima, o balão já estava muito alto, incendiado”, disse Luana.

“Não saltei. Fui ejetado”, diz piloto

Questionado sobre o motivo de ter deixado a aeronave antes dos passageiros, Elves afirmou: “Eu não saltei. Fui ejetado.” O cesto do balão, segundo ele, tem 1,20 metro de altura e é projetado para evitar que os ocupantes saltem em voo. “Não existe técnica para esse tipo de salto. É uma situação extrema.”

Voos turísticos ou de instrução?

A regulamentação dos voos de balão no Brasil apresenta lacunas. Em locais como Praia Grande, por exemplo, os passeios são enquadrados como “voos de instrução”. Mas a atividade na região é comercializada para fins turísticos.

Desta forma, especialistas defendem que empresas que lucram com a atividade deveriam seguir as normas da aviação comercial, com exigência de seguro, equipamentos de navegação, sistemas de emergência e planos de contingência.

Os voos com balões são regulamentados pela Anac (Agência Nacional de Aviação Civil). Segundo o órgão, Elves de Bem Crescêncio, piloto e sócio da empresa responsável pelo balão que caiu, não possuía autorização para realizar voos turísticos.

Em sua defesa, Elves afirma que operava dentro do que considera permitido pelas normas da aviação civil. “Nós voávamos pela Rbac 103, onde eu tinha certificação e cadastro junto à Anac”, declarou.

Aline Marques, advogada de defesa de Elves afirma que ele não é o responsável pelo que não deu certo. “Se retomarmos os passos a gente vai perceber que o extintor não funcionou, não por responsabilidade dele. Não é possível fazer um teste do extintor antes porque ele é descartável” falou.

Segundo ela, ainda é complexo apontar responsáveis sem o resultado dos laudos. “Mas algo que eu tenho certeza é que essa responsabilidade não é do Elves”, afirmou.

Já Luana diz que buscará por justiça e segurança. “Os meus próximos dias vão ser para lutar que tenha uma legislação e não simplesmente que os voos voltem como se nada tivesse acontecido”, declara.




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