Nos próximos 30 a 60 dias, o consumidor já deve sentir o preço do trigo (e dos derivados, como o pão) pesar mais no bolso. O motivo são os impactos sofridos pelas lavouras de trigo com as chuvas de outubro em Santa Catarina, cujos prejuízos devem se refletir no bolso do consumidor.
Haroldo Tavares, analista de Pesquisa e Extensão da Epagri, afirma que a alta umidade do clima ainda é um inimigo da colheita, que atrasou devido às chuvas. Ele explica que isso impacta no enchimento do grão, que acaba não atingindo o padrão para que seja enviado à panificação.
Tavares estima que 50% da safra seja impactada. Em vez de ir para a panificação (e ser beneficiado em farinha de trigo), o grão menor vira ração.
O Rio Grande do Sul enfrenta o mesmo problema, após ter sofrido com intensas chuvas. Com isso, o Brasil deve importar mais trigo de países como a Argentina, ou até dos Estados Unidos.
“O trigo é uma commodity, ou seja, depende do mercado internacional. Com isso, aumentam os custos com importação”, afirma Haroldo.
Commodity é o nome dado a culturas como o trigo, soja e milho, que são produzidas em larga escala e são matéria-prima para outros produtos. Os preços dessas commodities são determinados pela oferta e demanda do mercado internacional.
Produção de cebola, maçã e hortaliças também foi prejudicada
Outra cultura que foi impactada pelas chuvas e deve refletir na qualidade do produto é a cebola. Santa Catarina, segundo Tavares, é o maior produtor de cebola do país, mas muitas lavouras foram completamente alagadas pela chuva.
Além disso, a falta de sol em outubro também atrapalha um processo chamado de bulbificação, isto é, a formação do bulbo da cebola. Sem sol, o legume fica menor. Ela ainda vai para os supermercados e para as feiras, mas com tamanho pequeno.
A aveia é mais uma cultura que sofre com as chuvas e cujo prejuízo pode ser sentido até o próximo ano. Assim como o trigo, a colheita sofreu atrasos, e a maioria das lavouras que produziriam as sementes da próxima safra sofreram prejuízos. Com sementes ruins, a próxima safra também deve sofrer os impactos, e a aveia produzida vai, normalmente, para a pecuária.
O processo de floração da maçã, feito pelas abelhas, foi interrompido, já que a chuva não deixa os insetos polinizarem as plantas. Culturas mais rápidas, como alface, brócolis e repolho, também foram completamente inundadas e o consumidor pode sentir o impacto nos preços e na qualidade dos produtos ainda mais rápido.
Além de afetar diretamente a produção, a chuva ainda aumenta os custos indiretos da agricultura. Tavares explica que o aumento da umidade do ar aumenta também a incidência de fungos, por exemplo, nas culturas.
“Isso gera mais custos com fungicidas, por exemplo. São custos indiretos, mas que no final impactam o consumidor”, analisa.
Chuvas causam impacto bilionário na agricultura e na pesca
Agricultores em Santa Catarina tiveram prejuízo de R$ 1,6 bilhão com os estragos causados pelas fortes chuvas de outubro. O valor foi divulgado Epagri.
Os estragos no campo atingiram pelo menos 49,2 mil propriedades, espalhadas entre 162 municípios catarinenses. A maior parte deles está nas regiões do Alto Vale do Itajaí e do Planalto Norte do Estado.
As lavouras temporárias registraram os maiores danos. São os casos das culturas do fumo, que teve perda estimada em R$ 429 milhões, e da cebola, com prejuízos de cerca de R$ 286,4 milhões.
Houve ainda perdas com animais, máquinas e equipamentos, horticultura, estoque, leite, pastagem e pomar, além de diversas ocorrências de erosões em lavouras, encostas e estradas.
Um levantamento apresentado pela Secretaria de Pesca e Aquicultura de Santa Catarina no “Encontro Nacional de Gestores da Pesca e Aquicultura”, em Brasília, apontou prejuízo de mais de R$ 3 milhões a aquicultores e pescadores do Estado.
A estimativa é que cerca de 219 estabelecimentos aquícolas foram afetados e sofreram prejuízos estimados de R$ 3,3 milhões.
Com informações de NSC Total.