
Com mais de duas décadas de atuação na engenharia costeira dos Estados Unidos, o oceanógrafo catarinense Lindino Benedet tem no currículo projetos em dezenas de praias da Flórida, onde responde por cerca de 30% das obras de engorda da faixa de areia no estado. Em visita a Santa Catarina, ele participou nesta segunda-feira (21) de um debate promovido pelo Movimento Floripa Sustentável e conversou com a imprensa sobre os desafios enfrentados por Florianópolis na gestão costeira.
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Segundo Lindino, a principal diferença entre os modelos americano e brasileiro está na excessiva judicialização no país.
“Lá não existe tanta ação jurídica, principalmente de uma esfera do poder contra a outra. É raríssimo. Acho que nunca vi acontecer em 25 anos de carreira nos Estados Unidos”, afirma.
O especialista explica que nos EUA o processo de licenciamento é técnico, claro e previsível, o que reduz drasticamente a insegurança para empreendedores e acelera a implementação de projetos.
“De cada 50 obras, talvez uma seja judicializada. E, mesmo assim, é quase sempre entre vizinhos ou comunidades, e não entre órgãos públicos ou contra autorizações ambientais”, destaca.
Engordamento de praias

Benedet afirma que a experiência norte-americana pode servir de modelo para evitar erros e garantir o sucesso de projetos costeiros em Florianópolis. Ele defende que as praias devem ser tratadas como infraestrutura urbana, assim como ruas, pontes e avenidas, e que necessitam de monitoramento contínuo, manutenção e gestão integrada com base em dados técnicos.
“A cidade precisa entender que a engorda de praia não é obra de uma vez só. É um sistema que precisa ser acompanhado ao longo do tempo. Se for feito corretamente, os benefícios ambientais, turísticos e de proteção costeira são enormes”, afirma.
A Flórida, segundo ele, realiza entre 10 e 20 obras de engorda de areia por ano, enquanto Florianópolis realizou as três primeiras apenas recentemente.
“É um trabalho de décadas, que exige planejamento técnico e continuidade, sem interrupções por disputas judiciais e insegurança normativa”, alerta.
Lições para evitar dores de cabeça no futuro
Entre as soluções apontadas, Lindino cita o uso de estruturas complementares para reduzir a erosão e ampliar a durabilidade das obras, além do compromisso com a restauração sustentável de ambientes como dunas, canais e estuários.
“O que mais me preocupa aqui é a possibilidade de interrupção por ações judiciais mesmo quando todo o processo técnico foi seguido. Isso precisa ser revisto. Se queremos garantir segurança, atrair investimentos e proteger nossas praias, precisamos de um caminho mais seguro, claro e despolitizado”, conclui.