
Presente no cotidiano de milhões de brasileiros, o café é uma das bebidas mais consumidas no país, sinônimo de energia, produtividade e até conforto. No entanto, quando ingerido em excesso, ele pode deixar de ser aliado e se tornar vilão, principalmente para a saúde do sistema digestivo.
A professora do Idomed (Instituto de Educação Médica) e médica gastroenterologista, Renata Barth Almeida, alerta para os malefícios do consumo exagerado de café e reforça a importância da moderação, especialmente entre pessoas com predisposição a problemas gastrointestinais.
Segundo a especialista, o café pode agravar quadros de gastrite e refluxo gastroesofágico. A cafeína e os ácidos presentes na bebida, como o ácido clorogênico, estimulam a produção de ácido gástrico, o que pode irritar a mucosa do estômago.
Além disso, o café reduz a pressão do esfíncter esofágico inferior, válvula que impede o retorno do conteúdo gástrico ao esôfago, favorecendo o refluxo e sintomas como azia, queimação e regurgitação. Diretrizes do ACG (American College of Gastroenterology) recomendam limitar o consumo como parte das estratégias de controle desses distúrbios.
Outro aspecto preocupante é a interferência na absorção de nutrientes. Estudos indicam que o café pode dificultar a absorção de ferro não-heme, encontrado em vegetais e suplementos, devido à formação de complexos insolúveis com polifenóis e cafeína.
“Isso pode ser prejudicial a longo prazo, especialmente para populações vulneráveis, como gestantes e pessoas com anemia”, ressalta Renata. Em relação ao cálcio, embora o café não prejudique diretamente sua absorção, o efeito diurético pode aumentar a eliminação do mineral pela urina, o que impacta a saúde óssea com o passar dos anos.
A bebida também pode ser uma vilã para quem convive com a SII (Síndrome do Intestino Irritável), em especial na forma diarreica. A cafeína estimula a motilidade intestinal e pode causar urgência fecal, desconforto abdominal e aumento da frequência das evacuações. Em alguns casos, o café relaxa o esfíncter anal, dificultando o controle sobre os movimentos intestinais.
“Cada organismo responde de forma única. Por isso, o acompanhamento médico e a escuta dos próprios sintomas são fundamentais para decidir se o consumo deve ser limitado ou suspenso”, explica a médica.
De acordo com Renata Barth Almeida, o consumo não deve passar das três xícaras diárias. Acima disso, os riscos tendem a superar os benefícios, sobretudo para quem já apresenta condições como refluxo, gastrite ou síndrome do intestino irritável.
Para maximizar a absorção de nutrientes, a médica recomenda ainda evitar o café durante ou logo após as refeições, preferindo um intervalo de uma a duas horas.