Estudo da UFSC aponta riscos sanitários e ambientais da presença de cães nas praias de Florianópolis

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Foto: Carla Roberta Seára Willemann/Reprodução

Uma pesquisa desenvolvida na UFSC (Universidade Federal de Santa Catarina) reacende o debate sobre a presença de cães nas praias de Florianópolis. Mesmo com leis municipais que proíbem a prática desde 2001, é comum encontrar tutores passeando com seus pets pela orla da capital. O estudo alerta para riscos à saúde humana, animal e ambiental, e propõe critérios técnicos caso a cidade avance na regulamentação do tema.

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A pesquisa foi conduzida pela médica-veterinária Carla Roberta Seára Willemann com base no conceito de “Uma Só Saúde”, que integra os cuidados com os seres humanos, os animais e o meio ambiente. O trabalho analisa experiências internacionais em praias pet friendly, examina normas em vigor em outros países e reúne relatos de usuários sobre convivência entre cães e banhistas.

Atualmente, tramita na Câmara Municipal o Projeto de Lei Complementar nº 1956/2024, que busca permitir a presença de cães nas praias da cidade, desde que estejam vacinados e sob supervisão de seus tutores. No entanto, a pesquisa da UFSC aponta que a liberação sem medidas rigorosas de controle pode causar prejuízos significativos.

Riscos sanitários e ambientais

O estudo revela que um dos principais problemas está na contaminação da areia por fezes com parasitas zoonóticos. A pesquisa bibliográfica identificou 27 espécies de parasitas presentes em dejetos caninos, incluindo o Ancylostoma spp., causador do “bicho geográfico”, cuja procura online aumenta mais de 85% no verão na região de Florianópolis. Outros agentes, como o Toxocara spp, causador da Larva Migrans Visceral, também oferecem riscos à saúde e podem gerar complicações duradouras.

A manipulação de alimentos na areia, o contato direto com o solo e o descarte inadequado de fezes mesmo em sacolas plásticas representam ameaças adicionais. Outro ponto de alerta é o uso indiscriminado de vermífugos, que pode provocar resistência parasitária e contaminar o ambiente marinho com resíduos de medicamentos.

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Foto: Ipet/Reprodução

Impactos à fauna e segurança pública

Cães soltos também representam risco à fauna silvestre, à flora nativa e à segurança de banhistas. Em diversas regiões, há relatos de ataques a pessoas, outros cães e até a animais como tartarugas e aves. A presença de animais sem controle também pode gerar conflitos e acidentes.

O que seria necessário para uma regulamentação segura

Com base em modelos internacionais, a pesquisadora propõe uma série de medidas fundamentais para garantir a presença segura de cães nas praias da capital catarinense. Entre os principais pontos estão:

  • Investimento em saneamento básico eficiente

  • Controle populacional de animais errantes

  • Identificação e atestado de saúde atualizado dos cães

  • Uso obrigatório de coleira e guia

  • Delimitação de áreas específicas, cercadas e sinalizadas

  • Instalação de lixeiras adequadas para descarte de fezes, com vedação contra vazamentos e odores

  • Monitoramento constante da qualidade sanitária da areia

  • Ações de educação ambiental e campanhas de conscientização

  • Fiscalização frequente

Sem essas garantias, a pesquisadora recomenda que a proibição atual seja mantida e que a fiscalização seja reforçada. Paralelamente, ela sugere a criação de espaços urbanos pet friendly com menor impacto ecológico e maior controle sanitário.

O estudo reforça a importância de decisões públicas baseadas em evidências científicas e na realidade ambiental local. Em uma cidade com ecossistemas sensíveis como Florianópolis, o debate sobre cães nas praias deve ir além da conveniência dos tutores e priorizar a saúde coletiva e o equilíbrio ecológico.




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