
Embora o transporte ferroviário tenha perdido espaço para rodovias e aviões ao longo do século 20, os trilhos continuam vivos em Santa Catarina. Estações antigas, trajetos preservados e locomotivas históricas agora movimentam outro tipo de passageiro: o turista em busca de experiências que misturam nostalgia, história e natureza.
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Memórias que seguem nos trilhos
Entre as iniciativas de preservação mais emblemáticas do estado está o Museu Ferroviário de Tubarão, no Sul catarinense. Instalado no prédio da antiga estação central, o espaço abriga dezenas de locomotivas restauradas e promove passeios turísticos com composições originais da década de 1950. Os roteiros incluem paisagens da Serra do Rio do Rastro e trechos que margeiam rios, túneis e vales.
“É uma viagem no tempo. As pessoas se emocionam ao entrar em um vagão de madeira ou ouvir o apito da locomotiva a vapor”, relata Gilberto Cordeiro, coordenador do museu e guia dos passeios.
Outro destaque é a Estação Ferroviária de Apiúna, no Vale do Itajaí. Construída em 1909, a estação pertenceu à lendária EFSC (Estrada de Ferro Santa Catarina) e ainda preserva o traçado dos trilhos e parte da estrutura original. Atualmente, recebe eventos culturais e está no centro de projetos que visam revitalizar o trajeto até Lontras.
Turismo, educação e memória
Segundo historiadores, o desenvolvimento econômico de muitas cidades catarinenses se entrelaça à chegada dos trens. Em cidades como Indaial, Rio do Sul, Mafra, Lages e São Francisco do Sul, as estações antigas ainda podem ser visitadas — algumas transformadas em centros culturais, outras à espera de restauração.
Além do aspecto turístico, o resgate do patrimônio ferroviário tem um valor educativo. “As estações contam a história da imigração, da economia do café e da madeira, do crescimento das cidades. É uma aula de história a céu aberto”, diz a professora universitária e pesquisadora Ana Lúcia Krieger.

Novas rotas, velhos caminhos
Projetos para reativar trechos ferroviários turísticos estão em andamento, como a proposta da Rota das Estações, que pretende ligar Imbituba a Lages com paradas em pontos históricos. O projeto está em fase de estudos de viabilidade com apoio de entidades locais e do setor de turismo.
Em paralelo, empreendimentos privados apostam em roteiros mais curtos, como o passeio cultural e gastronômico entre Corupá e Jaraguá do Sul, ainda em fase de implantação, mas com forte apelo turístico.
Patrimônio que precisa de cuidado
Apesar dos avanços, especialistas alertam para o risco de abandono. Muitas estações estão deterioradas e algumas já foram demolidas. Organizações como o Iphan (Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional) e grupos voluntários trabalham para preservar o que resta e incentivar o uso sustentável das estruturas.
“O turismo ferroviário tem um potencial enorme. Mas é preciso ação conjunta entre governos, empresas e sociedade para evitar que essa parte da nossa história enferruje no esquecimento”, reforça Krieger.

Onde visitar
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Museu Ferroviário de Tubarão – Passeios de trem, exposição de locomotivas e história ferroviária do Sul de SC.
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Estação de Apiúna – Edificação centenária e ponto de referência no Vale do Itajaí.
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Estação de Mafra – Em estilo europeu, integra o centro histórico da cidade.
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Estação de Rio do Sul – Antiga estação da EFSC, tombada como patrimônio municipal.
Curiosidade: Santa Catarina chegou a ter mais de 1.200 km de trilhos em operação na primeira metade do século 20. Hoje, menos de 20% desses trajetos estão ativos para transporte comercial, e apenas uma pequena fração voltada ao turismo.