6 de setembro de 2023: um dia que não vai sair da memória dos moradores do Monte Cristo, na região continental de Florianópolis. Há um ano, o reservatório R4 da Casan, localizado na Rua Luís Carlos Prestes se rompeu e dois milhões de litros d’água inundaram as ruas, casas e deixaram rastros de destruição.
Casas, lojas e carros foram atingidos na comunidade do Sapé. A rua Profa. Marieta Barbosa Ribeiro foi um dos locais que acumulou, naquele dia, cerca de 15 carros, além de material de uma serralheria. Cristiano Daros, repórter da Jovem Pan News Florianópolis, acompanhou cada detalhe e lembra que foi uma das cenas mais impactantes de destruição.
“Alguns becos, carros próximos da praça também chamaram muito a atenção, com muita lama e cenas impactantes. Uma caminhonete chegou a entrar lateralmente na garagem da casa com a força da água. Idosos que ficaram presos dentro de casa precisaram ser retirados pelo Corpo de Bombeiros pelas janelas”, relembra.
Medidas
Um ano depois, o Poder Público e a Casan estão buscando formas de evitar que tragédias como essa se repitam. Foi assinado um TAC (Termo de Ajustamento de Conduta) entre a Casan (Companhia Catarinense de Águas e Saneamento) e o MPSC (Ministério Público de Santa Catarina) no início da noite de quarta-feira (4). O documento foi formalizado com o objetivo de aumentar o controle e a segurança na implantação de reservatórios.
Segundo Pedro Joel Horstmann, diretor de operação e expansão da Casan, esse TAC veio para melhorar aquilo que a Casan já estava executando, tanto a parte de projeto, construção e depois de manutenção e operação de todos os reservatórios, para dar segurança para a comunidade do entorno dos reservatórios.
“A Casan tem em torno de 1.250 reservatórios em operação e já foi montado um grupo técnico para vistoriar e verificar se tem alguma anomalia em algum deles. Alguns já foram feitos alguns reparos e outros ainda estão desativados. A mesma empresa que construiu o R4 também construiu outros dois reservatórios, que foram imediatamente desativados. Porém, após laudos, o Irineu Comelli já voltou a operar e o reservatório da Forquilhinhas está esperando esse laudo pericial”, destaca Horstmann.
Indenizações
286 famílias foram indenizadas pela companhia. Foram meses de conversas, reuniões, cálculos e a empresa fez o ressarcimento para as famílias atingidas. As indenizações às famílias afetadas foram concluídas pela Casan 107 dias após o incidente. Com o último pagamento, realizado em 22 de dezembro, somou-se aproximadamente R$ 9,7 milhões em compensações.
No entanto, essa indenização passa, agora, por uma análise da Defensoria Pública do Estado, que fez recentemente uma recomendação à Casan, para contratar uma empresa para realizar uma assessoria técnica independente, a fim de avaliar todo o prejuízo das famílias. A Casan tem um prazo de três meses para responder ao órgão.
“Cerca de 22 pessoas não se sentiram satisfeitas com essa indenização e entraram na justiça. Agora, a Defensoria sugeriu que a Casan contratasse uma perícia independente para recalcular. A companhia está analisando o documento e vai, dentro do prazo, responder a Defensoria”, ressalta o diretor.
Edilamara Aparecida Lima dos Santos, uma das moradoras da comunidade atingida pelo rompimento do reservatório, destaca que muitas famílias não receberam o ressarcimento. “Muitas pessoas receberam, mas muitas também não, e foi pago o que a Casan quis”, confirma a moradora.
Causas do rompimento
A investigação apontou que a causa do rompimento foi a divergência do material utilizado na obra e o que estava previsto no projeto estrutural. Segundo laudo da Polícia Científica, foi usado menos material que o previsto em projeto, causando o rompimento da estrutura.
Dois sócios-proprietários da empresa responsável pela construção do reservatório, além de um dos engenheiros da Casan (Companhia Catarinense de Águas e Saneamento), viraram réus em ação penal do MPSC (Ministério Público de Santa Catarina). Esta ação acusa essas três pessoas de crimes contra a incolumidade pública.
Moradora relembra tragédia
Edilamara perdeu tudo naquele dia e revela que recebeu apenas R$ 5 mil para adquirir os móveis e eletrodomésticos danificados após o acidente. “Materiais, móveis, eletrodomésticos, perdi tudo”, conta.
Ela, que é cozinheira, passou por um problema de saúde grave após o ocorrido. “Eu tive um derrame logo após a tragédia e estou impossibilitada de trabalhar. Estou vivendo com a ajuda de doações”, destaca a moradora do Monte Cristo, que, nesta sexta-feira, vai preparar um bolo para marcar essa data, que impactou toda comunidade.